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21.2.06

Meias Conversas ao Pé do Orelhão

Pessoal, pra ser sincero, a idéia de fazer essa série de Crônicas do Cotidiano, "Meias Conversas ao Pé do Orelhão", surgiu de uma casualidade, onde tive que ficar embaixo de um orelhão durante uma chuva rápida, daquelas de final de tarde, no centro de São Paulo.

Em certo momento percebi que estava escutando a conversa da pessoa que estava no telefone público colado ao que eu estava. Coisa chata, pensei eu! Além da chuva sou obrigado a ouvir a conversa dos outros!

Eu tentava de todas as formas não prestar atenção! Cantarolava, pensava nas preocupações, revia, mentalmente, as ações ainda daquele dia e mais as do dia seguinte. Nada, nada adiantou! Não fui capaz de me desligar da conversa alheia. Decidi relaxar! Relaxar e ouvir.

Agora eu tinha um outro problema. Eu só ouvia "esse" lado da conversa. E o outro lado? O que será que ele, ou ela, está respondendo? É homem ou mulher? Será gay? Está feliz ou triste? Está brigando?

A chuva caía fora do orelhão e na minha cabeça caiam as perguntas. A curiosidade chegou a ficar insuportável! Decidi! Vou imaginar o que o outro, ou a outra, está respondendo.

E assim começou! Quando estou com um tempo livre, procuro esses telefones públicos duplos e fico aguardando alguém telefonar. Explico que escrevo textos e que o nome dela, ou de qualquer outra pessoa citada por ela, não será mencionado (todos os nomes são fictícios); tampouco a localização do telefone, data ou hora. Alguns não permitem, mas a maioria não se importa.

Vou então para o outro lado do orelhão e como se eu estivesse conversando, vou anotando - nunca gravo - o que escuto da conversa. Devo ter hoje, umas vinte "meias conversas", aguardando que eu crie e me faça interlocutor do colóquio imaginário, pois não é algo fácil, principalmente quando a intenção pode ser dar um tom irônico, sem deixar cair para o chulo ou, em tom mais profissional, encaminhá-lo para a área de negócios e gestão de pessoas, ou abrangendo a política - nesse caso pode cair na comédia - ou, nada mais que o cotidiano.

Hoje, iniciando essa série, vou apresentar a primeira "meia conversa", indicando o que escutei e o que imaginei. Acho que com o tempo, a minha imaginação vai ampliando.

Com um travessão é real e com dois, é o imaginado.

- Alô! É Jandira! Ainda tá dormindo mulher?

-- Que nada filha! Essa noite não preguei o olho, se é que você me entende.

- Não to entendendo! Teve aquele troço de novo?

-- Claro que não! Outra comichão daquela? Devo ter comido alguma coisa estragada. Mas o que eu comi essa noite não tava estragada não.

- O Toninho tava junto?

-- Claro, né mulher! Tu acha que eu ia fazer com o vizinho? Você bateu com a cabeça hoje?

- Ainda bem que o Toninho tava! A mãe perguntou se você vai poder fazer aquele negócio?

-- Hiii! Diz pra ela que hoje não vai dar! Eu to muito cansada!

- Ela pediu pra você não esquecer de trocar a fralda do Pedrinho!

-- Já troquei! O moleque empesteou a casa toda! Parece até que comeu repolho com ovo cozido.

- Eu sei! Olha, hoje eu vou sair com o Beto!

-- Com o Beto! O cara é um mulherengo! Não quer nada sério! Vê se não "dá mole"!

- No cinema e depois vamos lanchar.

-- Assim é melhor! Você vai passar antes aqui em casa pra pegar o Pedrinho?

- Não tenho idéia! Acho que até amanhã!

-- Jandira, não faz isso comigo! Deixa o Pedrinho com a mãe! Até amanhã é capaz de eu já ter tido um troço.

- Tá bom! Mais tarde eu ligo! Tchau!

-- Liga mesmo hein! Não vai me deixar na mão!

1 comentários:

Anônimo disse...

Adorei! Genial, "show de bola",rs. Você tem um senso de humor fascinante! Bjinhos♥